Os Guardiães
Leah acordou de repente ofegante e assustada. Deu consigo sentada na cama, mãos geladas agarradas aos lençóis como se disso dependesse a sua vida. Respirou fundo numa tentativa algo fútil para controlar o seu coração que parecia querer saltar do peito para fora. Virou-se para o lado ainda no escuro e apalpou a mesa-de-cabeceira à procura do relógio. Encontrou-o, acendeu o pequeno candeeiro de modo a que pudesse vê-lo; ainda era de madrugada. Esta não era a primeira vez que Leah acordava com a sensação de pânico como se tivesse acabado de sair de um filme de terror. Tentou lembrar-se do sonho que a perturbava pela quinta noite em apenas um mês. Voltou a apagar a luz de modo a recriar o ambiente do sonho, escuro e impenetrável.
Fez um esforço para se lembrar e de subitamente foi sugada para dentro daquela memória, gélida mas vívida. O lugar onde se encontrava era frio e pouco luminoso. Estava dentro de água. Nadou até alcançar a margem e olhou em seu redor, estava rodeada por árvores altas, densas e de tronco largo. A floresta misteriosa onde se encontrava tinha um ar assustador e no entanto Leah não podia negar a beleza que os seus olhos presenciavam: a água da pequena lagoa de qual acabara de sair era negra, calma reflectindo o luar atribuindo ao local uma atmosfera simultaneamente sombria e mística. A lagoa situava-se numa clareira não muito pequena e no lado oposto ás árvores estava uma massa rochosa da qual caía um fio de água que parecia alimentar a lagoa. Por trás reluzia uma luz fraca que chamou a sua atenção. Após breves momentos de hesitação a curiosidade acabou por vencer e Leah decidiu seguir a luz. Escalou as rochas para se deparar com uma gruta parcamente iluminada pelo que pareciam ser tochas alguns metros mais à frente. A gruta era pequena transformando-se num amplo túnel que terminava num pequeno jardim.
Leah estacou ao deparar-se com uma imagem majestosa de um homem com postura e vestes de um guerreiro de tempos antigos. Era uma estátua com cerca de três metros de altura de face determinada voltada para a entrada da gruta por acabara de sair. A estátua exercia sobre ela um efeito magnético, fazendo com que involuntariamente se aproximasse. Era um jovem robusto de feições pesadas, semelhantes à face de alguém que muito viu para a sua idade; tinha junto do peito uma espada que agarrava com a mão direita, segurando com a outra um fino lenço que, com certeza, pertencera a alguma jovem mulher. Foi com dificuldade que um arrepio provocado pela brisa nocturna a retirou da pequena bolha protectora que se parecia formar à volta do guerreiro. Olhou para si mesma; estava ensopada. Trazia um vestido vermelho sangue com mangas compridas e tão pesado que quase a impedia de andar. Tinha estado tão submersa no que via que nem se apercebera do que trazia vestido. Um autêntico traje medieval! No entanto era como se aquela reacção que explodira dentro dela estivesse contida por algo maior, era como se aquele não fosse o seu corpo.
Ainda perdida nos seus pensamentos, sentiu outro arrepio desta vez provocado não pela brisa nocturna, mas sim pelo som de cânticos tão tristes e tão profundos que pareciam cantados pela própria morte. Seguiu o som e chegou à conclusão que provinham do mesmo lugar que a luz que avistara momentos antes. Os cânticos eram cada vez mais audíveis e Leah sentia a alma cada vez mais pesada, um sentimento claramente inerente ao seu ser mas aos olhos de Leah sem razão nenhuma de ser. Porque se sentia assim? Os seus passos foram ficando cada vez mais lentos como se o caminho por onde passava se tornasse maior a cada passo que dava.
Finalmente terminou. Leah não queria acreditar no cenário frente aos seus olhos...
The Librarian
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