domingo, 9 de dezembro de 2007

Os Condenados



O vazio de quem passa é assustador.

É aquele vazio que devora por dentro e mete pena.

Mas uma pena que mete medo.

Um peso incalculável da escuridão da noite fria que gela o sangue e ouve sem guardar as vazias mentes dos que passam, de chaminés na boca e oceanos de loucura nas mãos, dentro de caixas de vidro.

Não têm leme, vagueiam.
Não têm vida, existem.
Não pensam, devoram.
Devoram e regurgitam tudo o que lhes foi dado a comer pelos funis do mundo.

Mas é o silêncio da noite que assiste ao seu próprio quebrar pelos que lá passam, sob o coro das estrelas que cantam melancolias sobre as suas vidas de cristal.
É o poste de luz que assiste ao seu próprio inalterar pelos que passam por ele, sob a sua falsa luz.

Quem seria assim?

Quem poderia ser assim?

Quem poderia dedicar-se tão fortemente ao vazio a ponto de conseguir alargá-lo?
Será que se expande mesmo? Será que cresce?

Ou será que apenas se estende?

Estende-se?... Como um silêncio que se instala depois do silêncio anterior, apenas pesando mais no ar porque a nossa consciência terá descido mais um pouco para lhe dar espaço, como ao ar numa garrafa bebida?

Sentimos o tremer de algo que não existe? O temer de algo que não se vê? Não?
Então para quê as vozes, se não dizem nada?

Porque cantam o silêncio da noite, a infinita piedade e repulsa por quem não tem leme ou vida, porquê?

Porque é tão imponente um silêncio que deixa de ser silêncio para ser cantado?

Porque consegue ser o contrário do que é, e isso assusta...

Beleza, melancolia de gelar o sangue.

Jolly Roger

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